segunda-feira, 15 de março de 2010

A princesa sem um conto

Poderia jurar que ela está no tempo errado. Quando Carola me aparece distante, caminhando passos fortes com seu jeito expansivo e delicado, tenho visões de uma outra época. Sou capaz de ver a corte inteira enfeitada, e todos aqueles raios de sol invadindo os vastos salões com piso de mármore - branco, só para irradiar a filha caçula do rei que não existe.
Até no nome, Carola não pode ser daqui. Os longos cabelos amarelos, que formam cachos irregulares nas pontas; os olhos pequeninos de garota levada e doce; o nariz arrebitado, comum às altivas rainhas da minha boba imaginação. Se desenho na magreza peculiar dela um vestido de tecido fino, com muitas saias sobrepostas e corset apertado repleto de pedras encravadas, ponho logo no pescoço uma gargantilha de pérolas, numa tentativa vã de representar o jeito gracioso e puro de ser infantil na moça moderna que pulsa e cintila ali.
Tão bonito vê-la correndo com o vestido suspenso acima dos joelhos pelas mãozinhas pequenas, típicas de princesa. Emociona-me a ternura naquele olhar comprimido pelas pálpebras restritas que, em hipótese alguma, restrigem os olhos do visível e invisível nesse mundo. Ela consegue ver coisas que nem mesmo os esbugalhados podem ver. Ela ainda gosta de ver. E sorri sozinha, sem vergonha, das bobagens da vida, conscientizando-se de como são incrivelmente maravilhosas.
Carola sabe sentir, e sente. Sente até a mim, aqui, embasbacada com a possibilidade dela não ser desse tempo. Feliz com o desenho romântico que meus olhos lânguidos criam só de olhar. Definitivamente, não é só imaginação. Se tem alguém que cabe tão bem num conto de fadas posto à prova por meus dedos, a princesa encantada da minha narrativa não será outra moça senão Carola. Não mudo sequer uma característica. Deixo assim como me apareceu, como se sempre tivesse feito parte daquele lugar em que eu me encontrava sem encantamento e magia. Pena que Carola não é fada, mas ainda bem que posso vê-la de vez em quando - mesmo que reprimida pela maldição da frigidez -, e não me deixar esquecer nunca que a vida é um glamouroso baile de gala que sequer cabe em tempo algum.

2 comentários:

Coração de pedra disse...

E eu queria me apaixonar pela Carola.

=)

Jaya Magalhães disse...

Prefiro assim.
Prefiro você.

Deixo um beijo, pelo sorriso.