domingo, 25 de novembro de 2012

lembrademim

Lembra De Mim

Ivan Lins

Lembra de mim!
Dos beijos que escrevi
Nos muros a giz
Os mais bonitos
Continuam por lá
Documentando
Que alguém foi feliz...
Lembra de mim!
Nós dois nas ruas
Provocando os casais
Amando mais
Do que o amor é capaz
Perto daqui
Há tempos atrás...
Lembra de mim!
A gente sempre
Se casava ao luar
Depois jogava
Os nossos corpos no mar
Tão naufragados
E exaustos de amar...
Lembra de mim!
Se existe um pouco
De prazer em sofrer
Querer te ver
Talvez eu fosse capaz
Perto daqui
Ou tarde demais...
Lembra de mim!...

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

"Madalena foi pro mar e eu fiquei a ver navios". (Gal)

Quem me chama? Deixe-me no mar. Não me mande cartas de amor enfiadas em garrafas que nem mesmo se me acertarem a cabeça durante meus mergulhos diários eu vou querer saber. Não me mande notícias da costa. Deixei nela tudo que não podia levar. Fui embora da minha ilha deserta, que a solidão acompanhada é pior que navegar só. Não grite, não. Eu vou ficar aqui com as sereias. Só volto quando me ensinarem a ser bonita outra vez. Hei de voltar cantando com minha voz aguda e minha melodia atonal de sempre, mas com frequência baixa imperceptível, capaz de influenciar os tolos só pra selecionar os que não são.
Não faça sinal de fumaça. Estou longe demais pra identificá-lo. Não me venha com pedidos de socorro, eu não volto nem por um naufrágio.
No mar, estou onde quero estar. Entre os peixes, entre os meus, entre os que vivem sufocados em meio a muitas gotas salgadas e pouco oxigênio diluído. Não me chame! Estou onde eu quero estar.
Deixe-me, eu quero me afogar, preencher o peito de qualquer fluido porque sangue aqui demora.
Deixe-me no mar. Aqui eu sofro menos. Ainda que minha pele esteja ressecada, meus lábios estourados, meus cabelos desbotados, meus miolos derretidos, meu coração descobre em meio a imensidão do horizonte, das inconstâncias entre a tempestade e a limpidez do céu, do sol a pino, se encontrar.





















Deixa Madalena lá. Quem viu, viu. Quem não viu...
Bem, ela nunca foi de se mostrar.

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

O Não-ser é

O não-ser é. 

Dor, insuportável saudade
Quando lembro de minha beldade.
O mal é abstrato, mas física é a dor.
Sem seu meigo carinho e o seu uno amor.
Talvez a dor passe um dia,
mas não podemos confiar na cronologia,
pode o amor não acabar,
mas o tempo vai passar
e pode ser tarde pra a gente se amar.
Disso é que eu tenho medo,
Mas em meu coração
vou manter em segredo
nosso amor com todo zelo.
Saber que fiz você sofrer
Faz minh’alma padecer.
Chorei aos versos de Bandeira:
“compassiva e benfazeja”
Rolaram lágrimas por cima da bandeja
que comia a pipoca e só pensava em você.
Nossas tarde tão monótonas,
mas tão cheias de amor e satisfação.
Não queríamos mais nada.
Bastava a ocasião
pra ficarmos juntos o dia inteiro.
Nossos sorrisos não se fechavam por nada,
A não ser por abrir a geladeira e não encontrar a goiabada,
porque vital é a sua companhia
não importa aonde for.
Na cama, no sofá ou no estacionamento.
Ainda me apaixono toda vez que lembro
Do seu cabelo ao vento.
Em minha memória, fotografei esse momento.
Porque em mim tudo é você.
Não poderia ter esquecido de você nenhum instante,
Mas foi nessa maldita hora
que plantei a angústia que sinto agora.
Discutindo na escola,
Me disseram que não existe o nada,
Mas eu longe de você
Não sou nada além do Não-Ser. 


Evelon Oliveira

terça-feira, 31 de julho de 2012

A verdade que nunca precisou do "por-vir": Meu frisson

Meu coração pulou
Você chegou me deixou assim
Com os pés fora do chão
Pensei, que bom
Parece enfim, acordei
Pra renovar meu ser
Faltava mesmo chegar você
Assim sem me avisar
E acelerar
Um coração que já bate pouco
De tanto procurar por outro
Anda cansado
Mas quando você está do lado
Fica louco de satisfação
Solidão nunca mais
Você caiu do céu
Um anjo lindo que apareceu
Com olhos de cristal
Enfeitiçou
Eu nunca vi nada igual
De repente você surgiu na minha frente
Luz cintilante
Estrela em forma de gente
Invasora do planeta, amor
Você me conquistou
Me olha, me toca
Me faz sentir
Que é hora, agora
Da gente ir



O por-vir que se fez verdade: A Falta.

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Não compreendo a ti. Releio tuas declarações e ainda ressoam teus sussurros mais sinceros aos meus ouvidos. Teu peso, teu calor e o "eu te amo" com ou sem pedidos cheios de dengo e vontade. Onde ficaste, aonde foste? Por que soltaste a minha mão? Eu fiquei tão só. Eu com umas tuas camisas, uns livros, uns discos e aquela tua foto e, nesta, teus enormes olhos verdes pelos quais me apaixonei.
Guardei-te numa caixa, quis que estivesses fora do coração e só dentro dela, mas toda vez que a abro bate forte meu músculo vermelho enfraquecido, falta a-r nas vias vermelhas e sobram lágrimas pra inchar e avermelhar meu rosto mais magro e pálido de agora. Já não sei mais o que reflito no espelho; Gostaria de voltar a refletir a beleza que gostavas, a sensualidade criada só pra ti. Aonde foram teus sentidos, será que captas minha tristeza nas frequências que libero, enquanto fecho os olhos cabisbaixa pedindo por ti irracionalmente? Por quê? O que faltava em mim? O que sobrava em ti? Melhor esquecer-te. Quem disse que tento? Bem sei que não consigo.

domingo, 24 de junho de 2012

Um dia
Vivi a ilusão de que ser homem bastaria
Que o mundo masculino tudo me daria
Do que eu quisesse ter


Que nada
Minha porção mulher, que até então se resguardara
É a porção melhor que trago em mim agora
É que me faz viver


Quem dera
Pudesse todo homem compreender, oh, mãe, quem dera
Ser o verão o apogeu da primavera
E só por ela ser


Quem sabe
O Superhomem venha nos restituir a glória
Mudando como um deus o curso da história
Por causa da mulher


Superhomem - A canção, Gilberto Gil.








Ainda apoio teus pesados pensamentos em meio aos meus seios pequenos, mantendo-lhe rente ao peito e esgueirando-me até beijar-lhe a testa, como acordo espreguiçando-me na cama vazia e sinto seu calor e cheiros sozinha. Sei, mais-que-tudo, além das dores, sei sentir a tua falta.

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Tá bom

Senta aqui que hoje eu quero te falar
Não tem mistério, não
É só teu coração
Que não te deixa amar
Você precisa reagir
Não se entregar assim
Como quem nada quer
Não há mulher, irmão, que goste desta vida
Ela não quer viver as coisas por você
Me diz, cadê você ai?
E ai, não há sequer um par pra dividir

Senta aqui, espera que eu não terminei
Pra onde é que você foi
Que eu não te vejo mais?
Não há ninguém capaz
De ser isso que você quer
Vencer a luta vã
E ser o campeão
Pois se é no "não" que se descobre de verdade
O que te sobra além das coisas casuais

Me diz se assim está em paz?
Achando que sofrer é amar demais

Los Hermanos

domingo, 6 de maio de 2012

A vida assim nos afeiçoa

Se fosse dor tudo na vida,
Seria a morte o sumo bem.
Libertadora, apetecida,
A alma dir-lhe-ia, ansiosa: - Vem!

Quer para a bem-aventurança
Leves de um mundo espiritual
A minha essência, onde a esperança
Pôs o seu hálito vital;

Quer no mistério que te esconde,
Tu sejas, tão somente, o fim:
- Olvido, impertubável, onde
"Não restará nada de mim!"

Mas horas há que marcam fundo...
Feitas, em cada um de nós,
De eternidades de segundo,
Cuja saudade extingue a voz.


Ao nosso ouvido, embaladora,
A ama de todos os mortais,
A esperança prometedora,
Segreda coisas irreais.

E a vida vai tecendo laços
Quase impossíveis de romper:
Tudo o que amamos são pedaços
Vivos do nosso próprio ser.

A vida assim nos afeiçoa,
Prende. Antes fosse toda fel!
Que ao se mostrar às vezes boa,
Ela requinta em ser cruel... 
 
Manuel Bandeira 

segunda-feira, 16 de abril de 2012

"Vai ficar tudo bem".



[ Q u a n d o ? ]















"Quem bater primeira dobra do mar/Dá de lá bandeira qualquer/Aponta pra fé e rema/É, pode ser que a maré não vire/Pode ser do vento vir contra o cais/E se já não sinto teus sinais/Pode ser da vida acostumar

Será, Morena?/Sobre estar só, eu sei/Nos mares por onde andei/Devagar/Dedicou-se mais/O acaso a se esconder/E agora o amanhã, cadê?/Doce o mar, perdeu no meu cantar/Só eu sei/Nos mares por onde andei/Devagar/Dedicou-se mais/O acaso a se esconder/E agora o amanhã, cadê?"

(LH, Dois Barcos)


quinta-feira, 15 de março de 2012

Hai, caí

Todas as coisas que eu mais quis
na vida dizem respeito a você:
você sempre aqui
e nunca mais te ver.

domingo, 4 de março de 2012

Dói tanto assim
Que mais que amor não poderia ser,
Que não se encontra motivo,
Que nem mesmo milhares de risos
Poderiam conter.

E não é à toa
Que sou mesmo Madalena
E não existe coisa que se sinta boa
Nem quando, desesperadamente,
Se tenta.

E encontradas todas as razões.
No que se espera seja fim,
Vem à tona
O que ainda atormenta:
Uma outra.

A quem vai amar mais
Porque amor para mim foi verde.
E meu amor maduro
Condena-me a só poder amar nada
ou, na melhor das hipóteses,
muito menos.

sábado, 4 de fevereiro de 2012

E se é verdade
Que "tudo vale a pena
Se a alma não é pequena",
Mais verdade ainda
É que a alma diminui
Toda vez que a pena é grande.

Mariana Almeida