quinta-feira, 31 de março de 2011

Aquele livro ainda guarda o perfume que derramei pra te fazer lembrar de mim. Talvez possa guardar o cheiro por algumas décadas como vêm sendo guardadas as palavras cristãs sobre o amor divino há séculos.
Se hoje eu pudesse confessar, o sermão seria meu. Talvez elevasse as mãos para gritar ao sobrenatural a fim de que esse rebatizasse os meus sentimentos; talvez batesse firme o pé e gesticulasse como se estivesse me aquecendo para uma batalha; talvez esperneasse de agonia pelos resquícios de uma velha impotência; e certamente reclamaria pelo tempo que envelhece sem me deixar passar.
Ainda sem poder, ou me negando a querer, eu revelo que cansei. As vezes me pego no meio do jardim, sentada sozinha naquele banco, imaginando ser invisível a todos os olhos, exceto aos dos fiéis cães que deitam próximo a mim, esperando um vento razoavelmente forte e capaz de derrubar os frutos da mangueira ao lado. Sento no banco pra descansar. E quase sempre o cansaço é tanto que nem o sol menos inclinado me incomoda.
Evito fechar os olhos quando a brisa passa ressecando-os. Embora não queira ser vista, tenho prazer em ver tudo. Dormindo, mantenho abertos os olhos da alma. Entretanto, aprendi a enganar-me para não ver meu próprio coração.
Tem gente que, ao ver sangue, desmaia. Tenho medo de perder os sentidos e ai mesmo não ser vista.