sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Canta Nana, Canta.

Saudade de Amar

Saudade
Daquele romance que a gente viveu.
Saudade do instante, em que eu te encontrei.
Saudade, do imenso desejo que a gente perdeu.
Eu tenho é muita saudade,
Do tempo que amei

Saudade, da força que tinha o meus olhos nos teus
Eu vivo a mercê das lembranças,
Depois desse adeus.

A gente não deve,
Sofrer por amor tanto assim.
Porem, todo amor mesmo breve,
Eu guardo bem dentro de mim.

Saudade, de cada momento que eu lembro de cor.
Só sabe de amor e de saudade,
Quem já ficou só.

Saudade, eu tenho saudade.
Mas não de contigo voltar.
Eu vivo sentindo saudade,
De amar


Nana Caymmi

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Mas Hein?

Além Alma

Meu coração lá de longe
faz sinal que quer voltar.
Já no peito trago em bronze:
Não tem vaga nem lugar.
Pra que me serve um negócio
que não cessa de bater?
Mais parece um relógio
que acaba de enlouquecer.
Pra que é que eu quero quem chora,
se estou tão bem assim,
e o vazio que vai lá fora
cai macio dentro de mim?

[P. Leminski]

sexta-feira, 26 de julho de 2013

Parece que o amor chegou aí

"Fez-se mar,
Senhora o meu penar
Demora não, demora não
Vai ver, o acaso entregou
Alguém pra lhe dizer
O que qualquer dirá
Parece que o amor chegou aí
Parece que o amor chegou aí
Eu não estava lá, mas eu vi
Eu não estava lá, mas eu vi

Clareira no tempo
Cadeia das horas
Eu meço no vento
O passo de agora
E o próximo instante, eu sei, é quase lá
Peço não saber até você voltar"

Fez-se mar, LH.

quarta-feira, 19 de junho de 2013

Green is the colour, eu (só) balbucio.

"Juro¹ manter sempre verdes seus olhos em minhas lembranças²".³




















1 - "Que Jônatas se resolvesse a amar a Davi, quando não conhecia as paixões deste tirano afeto, não foi muita fineza; mas, depois de conhecer seus rigores, depois de sofrer suas sem-razões, depois de experimentar suas crueldades, depois de padecer suas tiranias, depois de sentir ausências, depois de chorar saudades, depois de resistir contradições, depois de atropelar dificuldades, depois de vencer impossíveis, arriscando a vida, desprezando a honra, abatendo a autoridade, revelando secretos, encobrindo verdades, desmentindo espias, entregando a alma, sujeitando a vontade, cativando o alvedrio, morrendo dentro em si, por tormento, e vivendo em seu amigo, por cuidado, sempre triste, sempre afligido, sempre inquieto, sempre constante, apesar de seu pai e da fortuna de ambos – que todas estas finezas diz a Escritura fez Jônatas por Davi – que depois, digo, de tão qualificadas experiências de seu coração e de seu amor, se resolvesse segunda vez a fazer juramento de sempre amar? Isto sim, isto é amor". Pe. Antonio Vieira, em Sermão do Mandato pregado na Capela Real, ano de 1645.

2- "Amor - chama, e, depois, fumaça...| Medita no que vais fazer:| O fumo vem, a chama passa...| Gozo cruel, ventura escassa,| Dono do meu e do teu ser,| Amor - chama, e, depois, fumaça...| Tanto ele queima! e, por desgraça,| Queimado o que melhor houver,| O fumo vem, a chama passa...| Paixão puríssima ou devassa,| Triste ou feliz, pena ou prazer,| Amor - chama, e, depois, fumaça...| A cada par que a aurora enlaça,| Como é pungente o entardecer!| O fumo vem, a chama passa...| Antes, todo ele é gosto e graça.| Amor, fogueira linda a arder!| Amor - chama, e, depois, fumaça...| Portanto, mal se satisfaça| (Como te poderei dizer?...)| O fumo vem, a chama passa...| A chama queima. O fumo embaça.| Tão triste que é! Mas...tem de ser...| Amor?...- chama, e, depois, fumaça:| O fumo vem, a chama passa". Manuel Bandeira, em Chama e Fumo pregado em Teresópolis, ano de 1911.

3 - ..., pregado na parede, ano de 2011.

quarta-feira, 27 de março de 2013

Reedição

 

 

quarta-feira, 24 de março de 2010


Queda



Estou pedindo pra ser só medo. É que não me lembro da última vez que caí, ao me desequilibrar por desconcentração e receio. Das cicatrizes nos meus joelhos, lembro-me que apenas uma foi por vontade. Aquela ladeira íngreme e comprida que, virando, dava num muro cheio de quinquilharias, era atraente. Posso até ver a imagem que meu cérebro conseguiu processar naqueles intensos segundos em que meus olhos vidrados eram ressecados pelo vento causado pela aceleração da minha bicicleta caloi. Eu, que nunca fui de travessuras, não era gente com aquela máquina rosa-bebê nos pés, já que as mãos quase sempre ficavam no ar. Parece até que tatuei a nossa parceria; não poderia contar quantas emoções foram estampadas à fina ranhura no meu corpo. Eu nem sei que fim levou minha caloi, mas o medo aliou-se a mim depois da dita queda. Gabo-me de não ter chorado. Sequer voltei pra casa com o rabinho entre as pernas, escondendo os ferimentos pra que não passassem merthiolate. - E merthiolate não arde mais. Uma pena, eu adorava ouvir minha madrinha dizendo "eu assopro, eu assopro". Esses dias ela passou em mim o novo. Eu duvidei do poder de cura, mais parecia água, e ela nem fez biquinho pra assoprar, fazendo vento pra carregar a minha dor. - Acho que foi por o risco ter me atraído, e eu tê-lo assumido e provocado, é que eu não me lembro do ente medo. Engraçado que agora torça pra que tenha. Acostumei-me com um poder premonitório esse tempo todo, agora eu só não queria acertar. Ponho a culpa num medo. Invento-o. Porém, não tenho mais bicicleta e o joelho já não serve pra lascar. Tenho uma rótula aqui dentro que sempre se desloca quando mexo, e até se mexe sem que eu queira. Será que essa eu posso arriscar? Se quem arrisca não petisca, estou me vendo comer poeira, com a cara no chão e o coração arranhado. Dá pra ver a carne viva. Ora, nunca esteve morta. Mas, uma vez machucada, o que há de fazer passar? Vai ser preciso muito ácido e atroz vendaval. Tudo bem, que seja, então. Pra mim, tem que ser assim: tem que arder para curar!







Eu deveria ter confiado mais no meu "poder premonitório". Continua ardendo tudo aqui.