Quem me chama? Deixe-me no mar. Não me mande cartas de amor enfiadas em
garrafas que nem mesmo se me acertarem a cabeça durante meus mergulhos
diários eu vou querer saber. Não me mande notícias da costa. Deixei nela
tudo que não podia levar. Fui embora da minha ilha deserta, que a
solidão acompanhada é pior que navegar só. Não grite, não. Eu vou ficar
aqui com as sereias. Só volto quando me ensinarem a ser bonita outra
vez. Hei de voltar cantando com minha voz aguda e minha melodia atonal
de sempre, mas com frequência baixa imperceptível, capaz de influenciar
os tolos só pra selecionar os que não são.
Não faça sinal de fumaça.
Estou longe demais pra identificá-lo. Não me venha com pedidos de
socorro, eu não volto nem por um naufrágio.
No mar, estou onde quero
estar. Entre os peixes, entre os meus, entre os que vivem sufocados em
meio a muitas gotas salgadas e pouco oxigênio diluído. Não me chame!
Estou onde eu quero estar.
Deixe-me, eu quero me afogar, preencher o peito de qualquer fluido porque sangue aqui demora.
Deixe-me
no mar. Aqui eu sofro menos. Ainda que minha pele esteja ressecada,
meus lábios estourados, meus cabelos desbotados, meus miolos derretidos,
meu coração descobre em meio a imensidão do horizonte, das
inconstâncias entre a tempestade e a limpidez do céu, do sol a pino, se
encontrar.
Deixa Madalena lá. Quem viu, viu. Quem não viu...
Bem, ela nunca foi de se mostrar.
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