segunda-feira, 12 de novembro de 2012

"Madalena foi pro mar e eu fiquei a ver navios". (Gal)

Quem me chama? Deixe-me no mar. Não me mande cartas de amor enfiadas em garrafas que nem mesmo se me acertarem a cabeça durante meus mergulhos diários eu vou querer saber. Não me mande notícias da costa. Deixei nela tudo que não podia levar. Fui embora da minha ilha deserta, que a solidão acompanhada é pior que navegar só. Não grite, não. Eu vou ficar aqui com as sereias. Só volto quando me ensinarem a ser bonita outra vez. Hei de voltar cantando com minha voz aguda e minha melodia atonal de sempre, mas com frequência baixa imperceptível, capaz de influenciar os tolos só pra selecionar os que não são.
Não faça sinal de fumaça. Estou longe demais pra identificá-lo. Não me venha com pedidos de socorro, eu não volto nem por um naufrágio.
No mar, estou onde quero estar. Entre os peixes, entre os meus, entre os que vivem sufocados em meio a muitas gotas salgadas e pouco oxigênio diluído. Não me chame! Estou onde eu quero estar.
Deixe-me, eu quero me afogar, preencher o peito de qualquer fluido porque sangue aqui demora.
Deixe-me no mar. Aqui eu sofro menos. Ainda que minha pele esteja ressecada, meus lábios estourados, meus cabelos desbotados, meus miolos derretidos, meu coração descobre em meio a imensidão do horizonte, das inconstâncias entre a tempestade e a limpidez do céu, do sol a pino, se encontrar.





















Deixa Madalena lá. Quem viu, viu. Quem não viu...
Bem, ela nunca foi de se mostrar.

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