segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

A Moça do banco - Reconvite

Sentada ali, desde sempre, a moça já fazia parte da paisagem como integrante da praça, como o banco, como o poste, como o jardim, como as pedras, como a fonte, e como os pombos alimentados pelos casais doces de velhinhos.
Sentada ali, não mais observada pelos curiosos, não sendo mais alvo das conversas das vizinhas futriqueiras, dos pedidos dos mendigos, das explorações dos canalhas, da insistência das crianças, sentiu-se melhor.
A moça do banco nunca quis trazer pra si a atenção alheia, mas apenas a de quem tanto esperava. Tanto tempo, tanta coisa, tanta história, tanto de tanto, de tudo.
Mesmo com todas as intempéries, mesmo com as feições diferentes dos tempos de outrora em que ainda tinha esperança e desejo de tudo, apesar dos horrores, apesar das desistências, apesar das incoerências, ela morreria ali, prometendo sempre voltar se acaso precisasse sair, prometendo sempre cuidar do futuro que pudesse surgir, prometendo sempre proteger as histórias prometidas, as sensações veladas, os códigos, os planos, os desenhos e os sentimentos.
Sábia moça do banco, sábia, sensível e sensitiva, sabia que valia a pena, qualquer que fosse o resultado. Sabia que tinha nas mãos, nos olhos e no peito o mais valoroso dos sentimentos, que nem mesmo o sangue poderia conferir ou controlar. Valeria a pena, mesmo que sem benefícios, continuar.

Eis que ele ouviu suas preces lá de longe, pois as fazia também, e apareceu no horizonte distante, mais perto que nunca.
Ela, o convidou a sentar, mais uma vez.

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