terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Tomara-que-caia

Seus olhos atentos, intrigantes e provocadores mais pareciam querer entregar todo o desejo, mas, em si, havia um inquietante medo; seu afilado nariz traduzia uma prepotência adorável, sem demonstrar qualquer arrogância; seus lábios bem desenhados e avermelhados tentavam balbuciar qualquer palavra enquanto os dentes não paravam de mordiscá-los; seus cabelos presos revelavam um fino e altivo pescoço; seu colar brilhante não era capaz de ofuscar o encanto dos ossos salientes da clavícula e dos ombros alinhados que se contorciam em si; suas mãos entrelaçadas na altura do coração apresentavam as palpitações do músculo vital de maneira muito mais sutil que a frequência das batidas aceleradas; suas pernas cruzadas, mesmo em pé, certamente significavam alguma retração inoportuna; e seus pés quietos, apenas porque já não podiam se mexer.
Com a luz da noite saída da janela detrás de si, se fez sombra, intentando estar sempre com quem ali estava diante. Um sopro de vento duradouro contornou seu corpo, desenhando as curvas que o vestido simples e comportado queria esconder.
Até as denominações das matérias colaboravam para magnetizar as almas e, revelando tudo o que já se havia esboçado, o vestido "tomara-que-caia" finalmente caiu.

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