sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Eu não ligo

Eu não gosto dos teus amores! Já deveria ter lhe dito isto antes, mas eu sempre fico emudecido diante dos teus discursos filosófico-sentimentais, querendo achar argumento certo pra te convencer a ser só minha. Mas nada. Não me vem nada à cabeça que possa lhe tocar o coração. Por certo, qualquer coisa que eu dissesse você transformaria em poesia lírica e eu, tomado de encanto, embasbacado, apenas fingiria ter raiva de você, por parecer brincar com tudo que é meu.

Não é você que tenho vontade de esganar, muito embora essas tuas saias de pregas me incomodem quando passeamos. Sempre peço pra que vista uma coisa mais comportada, mas - diabos! - você adora ter as pernas à mostra e o ventinho com a sensação de uma liberdade que faz questão de expressar. É um saco ouvir dos outros que você parece atiradinha e brigar por isso.

Ainda assim, não me aguento e te chamo sempre pra sair. Eu nem ligo de você passar a metade do passeio falando dos casos que aconteceram no período que não nos falamos, manifestando opiniões sobre os romances dos amigos que você aconselha e, quase sempre ainda tenho que te dividir com as ligações que não param se eu não desligar teu telefone.

Queria não desgrudar de você, mas até que gosto de ficar só te observando correr na minha frente pra ver mais uma saia numa vitrine qualquer, ou quando dá os conselhos pelo telefone depois de ter ouvido lamentações, mordendo os lábios cheia de preocupação, ou ainda quando me puxa pela mão com pressa para entrar na fila do sorvete.

Ainda bem que eu não tenho o número do teu telefone. Ia querer ligar a todo momento pra ouvir essa sua voz de quem acaba de acordar, e tentar imaginar com que roupa está vestida sozinha em casa, tomando um daqueles chás que te deixa um gosto na boca que eu detesto. Sorte a minha ter tido o celular roubado no dia em que te conheci, sorte a minha você ter tido medo e pedido pra eu te acompanhar até em casa.

Desde então, passo ao menos uma vez por semana pra te levar pra sair. Lembro da vez que tive que viajar a trabalho e não gritei teu nome pra que aparecesse da janela. Fingi ter tido um pesadelo por ter acordado os colegas com quem dividia o quarto. O vizinho de baixo do teu prédio já nem liga mais pros meus berros, e só resmunga "pra que existe interfone?". Ele não sabe que eu adoro o teu nome, e que preciso gritá-lo de vez em quando pra que deixe de martelar em minha cabeça o tempo todo.

Desce menina, hoje é dia. Vem sair comigo. Veste algo mais decente que a gente vai prum lugar diferente dessa vez. Lá já tem sorvete e até algumas saias suas. Vem. Quero te levar pra morar comigo.

3 comentários:

Ygor P. disse...

decerto que não prende.

Carlos Howes disse...

Passear em encantamento é muito bom.

Gostei do escrito!

Coração de pedra disse...

Ué...

E aquele seu jeito feio de não saber se perder?

=*

PS: Inquieta quando some.