terça-feira, 16 de dezembro de 2008

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

A Moça do banco - Reconvite

Sentada ali, desde sempre, a moça já fazia parte da paisagem como integrante da praça, como o banco, como o poste, como o jardim, como as pedras, como a fonte, e como os pombos alimentados pelos casais doces de velhinhos.
Sentada ali, não mais observada pelos curiosos, não sendo mais alvo das conversas das vizinhas futriqueiras, dos pedidos dos mendigos, das explorações dos canalhas, da insistência das crianças, sentiu-se melhor.
A moça do banco nunca quis trazer pra si a atenção alheia, mas apenas a de quem tanto esperava. Tanto tempo, tanta coisa, tanta história, tanto de tanto, de tudo.
Mesmo com todas as intempéries, mesmo com as feições diferentes dos tempos de outrora em que ainda tinha esperança e desejo de tudo, apesar dos horrores, apesar das desistências, apesar das incoerências, ela morreria ali, prometendo sempre voltar se acaso precisasse sair, prometendo sempre cuidar do futuro que pudesse surgir, prometendo sempre proteger as histórias prometidas, as sensações veladas, os códigos, os planos, os desenhos e os sentimentos.
Sábia moça do banco, sábia, sensível e sensitiva, sabia que valia a pena, qualquer que fosse o resultado. Sabia que tinha nas mãos, nos olhos e no peito o mais valoroso dos sentimentos, que nem mesmo o sangue poderia conferir ou controlar. Valeria a pena, mesmo que sem benefícios, continuar.

Eis que ele ouviu suas preces lá de longe, pois as fazia também, e apareceu no horizonte distante, mais perto que nunca.
Ela, o convidou a sentar, mais uma vez.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

"E com você me sinto bem"

Quem sabe se é chegada a hora; ela nem tem relógio no pulso, o da parede anda sem pilha e o que funciona não informa nunca a hora certa.
Quem sabe se é chegado o sentimento; ela tem se deixado levar pela vontade constante e pelo incrível bem-estar que as realizações têm lhe proporcionado.
Quem sabe se é chegada a realidade; ela tem sentido todas as sensações que os cinco sentidos do corpo são capazes de perceber e mais tantas sensações fenomenais que os sentidos da alma são capazes de revelar.
Quem sabe? Ela sabe.
Quem mais sabe? Quem quer ver.

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Tomara-que-caia

Seus olhos atentos, intrigantes e provocadores mais pareciam querer entregar todo o desejo, mas, em si, havia um inquietante medo; seu afilado nariz traduzia uma prepotência adorável, sem demonstrar qualquer arrogância; seus lábios bem desenhados e avermelhados tentavam balbuciar qualquer palavra enquanto os dentes não paravam de mordiscá-los; seus cabelos presos revelavam um fino e altivo pescoço; seu colar brilhante não era capaz de ofuscar o encanto dos ossos salientes da clavícula e dos ombros alinhados que se contorciam em si; suas mãos entrelaçadas na altura do coração apresentavam as palpitações do músculo vital de maneira muito mais sutil que a frequência das batidas aceleradas; suas pernas cruzadas, mesmo em pé, certamente significavam alguma retração inoportuna; e seus pés quietos, apenas porque já não podiam se mexer.
Com a luz da noite saída da janela detrás de si, se fez sombra, intentando estar sempre com quem ali estava diante. Um sopro de vento duradouro contornou seu corpo, desenhando as curvas que o vestido simples e comportado queria esconder.
Até as denominações das matérias colaboravam para magnetizar as almas e, revelando tudo o que já se havia esboçado, o vestido "tomara-que-caia" finalmente caiu.