quinta-feira, 9 de abril de 2009

De falhos a belos errantes

[De como belos errantes uma dia foram simplesmente falhos]


O fato de somente os pais estarem legitimados a errar não parece injusto, afinal, trazem consigo a justificativa suprema e inquestionável de estarem sempre em busca do melhor. É ainda mais inquestionável se for possível valorar qualquer sentimento fruto de relação divina, ou se o sacrifício puder ser computado em alguma prestação de contas.
Assim, nada se questiona por ser deveras inquestionável. Ora, mas vá, como erram! São os mais belos errantes pelas causas mais nobres já existentes, ainda que não surtam efeito algum ou signifiquem mesmo nada.
Numa troca clara em que ninguém almeja trocar nada, as coisas se fazem por incondicionalidade, e o sangue, ignorado por ora, é a explicação esdrúxula mais plausível que se pode apreender.
Talvez seja a coisa mais simples da vida, sendo mesmo da natureza, e por assim dizer, imutável. Entretanto há que ser reproduzido em contexto tal um ensinamento aforístico não-relacionado diretamente que se aplica ao caso: "As coisas mais simples são as mais complicadas". Nisto trazido à leitura agora, é que o ensinamento se mostra mais (per)feito.
Quem há de explicar relações fraternas com a propriedade magnânima dos atos já concretos? A nenhuma das partes foi dada a capacidade de sintetizar as teses e antíteses surgidas de maneira complementar.
Das teses dos belos errantes às antíteses dos simplesmente falhos, não postos antagônicamente - posto que isso desconstituiria toda a realidade fática -, o que os cinco sentidos podem perceber está muito aquém do que existe.
Aos falhos nominados filhos, com ânimo de (re)agir tão peculiar, é dado o cargo de aprendiz. Mas aprendiz de belo errante não é coisa fácil de ser. O aprendiz não tem justificativa alguma para proceder como lhe é impelido a fazer, mas felizmente, poucos raros são os que se sabem aprendizes e vivem sob a custódia da culpa de errar injustificadamente.
Injusto é não serem perdoados quando não foram feitos para outra coisa senão errar, sendo, pois, os mais dignos de perdão. Pior, é não poderem em hipótese alguma trocar de lugar com os mestres, mesmo quando já os tenham superados.
A estas criaturas, nunca pobres coitados - pois, como dito antes, não existirá prestação de contas -, resta a possibilidade, sempre recordada, ainda que nem sempre vontade, de terem seus próprios aprendizes, começando tudo outra vez, com a mesma justificativa de sempre.