domingo, 26 de outubro de 2008

Laranjeira


Ah, minha flor de laranjeira, tens tu o melhor dos aromas. Quaisquer de tuas variações transmitem a mim a idealização de um lindo campo florido e perfumado.
Chego a sonhar que sou menina de tranças correndo pelo laranjal a enfeitar os cabelos com as florzinhas que o vento não deixou vingar - coisa que nunca fiz - e, quando com sede, a retirar o suco de seu fruto colorido.
De doce a ácido, quaisquer dos teus sabores me alimentam. Enchem-me de nutrientes tão peculiares que nenhuma outra fruta híbrida saberia ter; protegem-me dos perigos que as intempéries do tempo certamente me causariam; e, sobretudo, divertem-me quando me lambuzo, sem vergonha.
Teus cheiros, tuas cores, teus sabores, tuas texturas. Todos os meus sentidos aguçados e, só depois de tanto sentir, caio em algum simbolismo.
A representação da pureza que os mais velhos vangloriavam-se ao casar, a simplicidade do fruto híbrido que é mais valoroso que tua fusão, o montante de células individuais num todo consistente, a singeleza de tua existência viçosa e eu, como mera espectadora, apenas finjo que ajudo a natureza ao regar-te por amor, sabendo, entretanto, que as flores delicadas, perfumadas e brancas se tornarão frutos suculentos, coloridos e viçosos
invariavelmente.


Uma homenagem a Laura Rebouças.

Um comentário:

Nina disse...

Consegui aspirar tão devotamente o cheiro da flor da laranjeira que também me senti uma menina de tranças a correr pelo pomar.

E depois dizem que não podemos fazer dos frutos nossos tão fiéis amigos. ;D Amigos tão agridoces e não perfeitos, tudo o que precisamos.