sábado, 21 de fevereiro de 2009

Escreviver

Eu deveria parar com tudo, é o que penso há tempos enquanto escrevo as histórias que vivi e viveram em forma de contos baratos que de nada servem a mim ou qualquer outro ser. Definitivamente, isso aqui que surgiu como desprendimento agora é prisão aberta da qual não saio por vaidade.
É o efeito que minhas palavras sempre me causam. É meu único vício que algumas muitas vezes já não mais satisfaz minhas necessidades de viver o que não experimento. Não que a profusão de sentidos em forma de letras não criem mais em meu corpo os hormônios e, consequentemente, as sensações reais e tangíveis que apenas os sensores celulares são capazes de identificar, a verdade é que escrever tem parecido um encargo grande demais pra quem vem tentando simplificar todas as coisas.
Existe um certo desconforto em manter tal registro de idéias e sentimentos quando o coração e mente não se deixam esquecer de absolutamente nada. Tudo comprovado quando os machucados se fazem sangrar, o coração palpita acelerado diante do passado e os vadios enojam com suas caras mal lavadas fingindo não errar.
No meu foro íntimo não preciso me questionar sobre a vivacidade do que existe e a dinamicidade do que está começando a se configurar, é óbvio que a manutenção de determinados elementos em mim não se faz por acaso, da mesma maneira que o que surge é fixado intencionalmente. Entretanto, sou compelida a desabafar o que não está sufocado, como se estivesse a provar previsões que obtive em decorrência dos poderes de bruxa.
Nunca soube se caí num caldeirão de feitiço quando criança ou se fui amaldiçoada por algum deus brincalhão, fato é que a minha capacidade é intensificada sempre, seja diante da maior questão da minha vida (ou mesmo da vida alheia) ou do mais ínfimo detalhe que aos míseros mortais pouco importa.
Sob um olhar crítico e próprio, quanta bobagem, mas bobagem mesmo é ignorar um fantástico modo de "escreviver" a vida. Há em mim uma prepotência no sentido mais lato possível - aqui cabe uma observação: as pessoas deveriam se prender mais ao sentido primário e real das palavras e, depois de acostumadas, fazer o mesmo com os sentidos das coisas da vida, não fazendo é que tem um bando de gente duvidando de tudo e querendo explicações inúteis daquilo que acredita e nem sabe. Gastam energia à toa e eu, poucas vezes na vida, fiz questão de ajudar a clarear o que tinha cor. O que é transparente me enoja mais do que é cinza.
Mas voltando. Pois foi assim que vivi de fato as histórias que inventei; que não me assustei quando o que previ aconteceu diante dos meus olhos; que não me apavorei diante do novo problema porque a solução, a mim, já era velha.
Perceba que a prolixidade permite a um bom controlador escrever sobre duas coisas absolutamente distintas ao mesmo tempo. Um prolixo legítimo nada mais é que "um ser simples em ser", que assume a postura de jogador e brinca com as palavras para se defender - venho acreditando que agora apenas me divirto tentando controlar o tempo por escrever.
Se alguém me disser que se trata de um esconderijo, não poderei relutar hipocritamente. Não fujo dessa verdade, ó não. Com métodos bobos e hábeis apenas elimino esse instrumento da arte de enganar.
Confesso, fingir eu sei. Crianças fingem, mães fingem, pais fingem, artistas fingem, até o poeta finge, por que eu não poderia? Fingi algumas vezes cheia de razão por causas ora nobres, ora não tão nobres. Criei válvulas de escape muitas vezes para ocultar os desejos que de muito além pareciam pecaminosos ou altamente cortantes para os que estavam ao lado. E até nisso há uma tremenda autenticidade.
A crueldade dos meus instintos se afeiçoa com a firmeza das minhas convicções e tudo em mim é complementar, não assim tão contrastante. É dessa complementariedade, que não passa de uma múltipla personalidade, que me revelo inteiramente mascarada e intensamente verdadeira, porque assumo todos os perfis que realmente possuo.
Aqui, despida, não tenho face. Falso esbravejar ter sido tomada por um verdadeiro eu. A pureza em mim não talha nenhum contorno e, é assim, simplesmente amorfa, desejando algo simplório e sem sentido, em vão, que evado-me por instantes da prolixidade sem receio algum, sequer o de descontentar a mim mesma.
Eu não me chamo Madalena, mas adoro sê-la.

Maria Rita - Madalena

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