quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Não fala, mas quer falar.
Seria bom dizer todas as palavras que guardou durante longos anos de espera, saudade e repulsa, mas o que se há de falar por ter o coração preservado, estando num lugar encantado, onde as copas das árvores formam desenhos e drogados gentis presenteiam com flores?
Palavras piegas de desconhecimento banal não alteram em nada o prazer do partilhamento daquele instante que de reencontro é também despedida; desejos e vícios em nada alteram a vontade de ali permanecer; e os sentimentos eternos melhor explicam a razão de nada ter poder modificativo.
A sutil distração, a grande descrença e o vento suave desfazendo os desenhos das árvores no céu, a luz confortante do jardim e as águas coloridas e dançantes certamente fazem o ritual da chuva. E logo as primeiras gotas surgem por ali. Talvez os céus lacrimejem em lugar das partes que não se permitem emocionar manifestamente.
Melhor correr em busca de abrigo de concreto para se proteger das doenças de frio que os céus eliminam pelos rancores e mágoas que sem mais efeitos só faltam se esvair.
Corre, corre. Sem a pelúcia nas mãos e sem os banhos de bica da infância vivida, mas com a mesma companhia.
Abriga, abriga. Não a cabeça e os pulmões, mas o amor que tem dentro de si, mesmo que o ambiente não seja mais a encantadora praça, mas o chão relento debaixo de marquise falhada. Abrigue então, pois tem ali o santuário do que é deveras santificado.
Se a chuva passa sem levar o tempo, continuam seu caminho sem traçar trajetória definitiva. Caminham pela mesma razão de sempre - deixando-se levar. E os ambientes não parecem melhores, os hábitos são só hábitos, os risos são só risos, e logo é hora de partir.
Esperando partir que não se pode fugir do que vem, e a curiosidade de nada e a vontade de falar se chocam. Quebrando o silêncio perfeito, a definição de pensamentos confortam os sentimentos. A honestidade brilha e se espande em forma de companheirismo sincero atinente à pura amizade.
Alguns metros, as partes levadas sem suas próprias forças, mãos dadas esperando um fim, pra que mesmo falar?
E dá-se o fim, mas a despedida é o melhor dos reencontros. Tem formato de silêncio e abraço
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Uma homenagem a Glaucia Santos.

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