Nana Caymmi e Erasmo Carlos - Não se esqueça de mim
quarta-feira, 29 de abril de 2009
sexta-feira, 24 de abril de 2009
Troca de fechadura
05 de fevereiro de 2003
Minha delícia,
Ainda quero te ter outra vez em meus braços, Judite.
Se eu pudesse não teria deixado você partir naquele dia. Nu, agarrado ao nosso lençol branco, escondendo meu pecado, eu não poderia cometer o deslize de deixar a outra só, enquanto eu corria atrás de você.
Erro por sobre erro, cometo um de cada vez, mas Deus sabe o quanto não queria ter errado com você. Eu sei todos os dias do meu maior deslize e sofro ao querer gritar teu nome para que volte ou gozando do sexo ardente com a moça da boate de ontem à noite.
Eu nem sei pedir perdão...
Ah, Judite, como eu quero te ter outra vez em meus braços e te consumir por inteira. Seria feliz ao me enrolar nos teus cabelos negros de fios grossos e sedosos, deslizar por teu pescoço delicado e fino, alcançar teus ombros e mergulhar em teu colo bem feito de seios enrigecidos e pequenos. Percorro teu corpo esguio de olhos fechados com as mãos no ar, reagindo às lembranças que você me deixou, ao desejo latente de te sequestrar e ao amor sufocante que só senti por você.
Volta Judite, eu mudo os lençóis, mudo as toalhas, mudo os móveis, mudo até de apartamento, troco até de celular, me rebatizo com o nome que você quiser me dar, mas volta Judite! Volta Judite, ou vou procurar outra mulher de mesmo nome para colocar em seu lugar!
Não sabe que enlouqueço sem você? Que pareço um menino em corpo de homem à procura de prazer vazio nas noitadas por ai? Até hoje eu não aprendi a viver sem você. Deito com qualquer outra pensando em você, procurando por você, desejando e clamando por você.
Droga, Judite, quanto tempo já tem que você me pegou com a vizinha de andar na cama? 5, 6 anos? Já não lhe dei tempo suficiente para aceitar a decepção?
Poxa vida, você sabia que eu era fraco para mulheres bonitas. Vá lá que a vizinha não estava no ponto, mas nem mesmo você, que conhecia das minhas fraquezas, tinha idéia da falta que teu corpo perfeito me fazia naqueles dias em que você viajava.
Inferno, Judite, por que fazer surpresa se sabia que eu não gostava, se sabia que corria riscos? Tinha que chegar sem avisar?
Eu não devia ter lhe entregado as chaves do meu apartamento.Orlando Praga
p.s. Eu não devia ter lhe entregado o meu coração!
domingo, 19 de abril de 2009
Assexuada
Eu conheci Ana em uma esticada de artistas depois do teatro. 'De cara', gostei do jeito livre dela, Tinha uma beleza gostosa de mulher desajeitada com um toque todo especial de elegância high society. Eu me encantei pelo ar propositalmente desarrumado, sabendo que metade daquela arrumação tinha sido premeditada, mas confesso que foi o rosto limpo, sem maquiagem, o que mais me agradou.
Numa mesinha de bar, ao som de um cantor sem voz tentando ganhar a vida nas noites da cidade, ela me acompanhou solidariamente na água, enquanto todos os outros se deliciavam com seus drinks e coquetéis bem elaborados.
Ana gostava de falar, e como falava! Olhava diretamente nos olhos do seu ouvinte, tentando hipnotizá-lo para não ser refutada. Não sei se também fui hipnotizada, mas até hoje acredito que todas as suas palavras estavam absolutamente certas, embora não tenha podido tomá-las por convicção. Distante duas ou três cadeiras de mim, mesmo que estivesse falando para outra pessoa, era para mim que olhava com atenção. Não sei por que, mas aquele olhar não me causou medo, senão intensa curiosidade.
Nem me assustei quando ela deu um jeito de sentar do meu lado, chamando a atenção dos outros à mesa, ao substituir prontamente o meu vizinho que fora ao banheiro. Lembro que Pierre, o produtor, alertou-me para ter cuidado com ela, fazendo meu rosto enrubescer, e fez chacota sobre eu ser carne fresca. Pouco me importei, talvez tenha até gostado da atenção que tirei ainda mais de Ana depois do comentário. Posso confessar sem medo que tive interesse tanto quanto ou ainda maior.
Achei que a noite passara rápido demais praquela nova experiência pela qual Ana queria me levar/levava. Falamos de música, de teatro, de pintura, de literatura, e para falar a verdade, não concordei com quase-nada, mas aceitei as verdades de Ana com profunda admiração, sem poder refutá-la.
Cada um em direção ao seu carro, a noitada no fim, Ana me segurou um pouco mais, agora disfarçadamente. Queria que meu passo fosse lento o suficiente para me surpreender sem que ninguém percebesse. Talvez se tivesse sido efusiva, ninguém percebesse mesmo, afinal, o nível de álcool no sangue estava muito além do permitido para dirigir.
Mas Ana estava sã, sem nenhum sabor de álcool em seu lábios ou língua. Como sei? Ana me puxou para um vão no estacionamento em que parados juntos estavam nossos carros, e me beijou com fulgor de adolescente apaixonada. Nem sei se retribuí como queria/devia naquele instante, mas consigo lembrar de cada movimento dos nossos rostos e músculos fundidos ali.
Depois ela me disse direta e incisiva que não era lésbica, mas logo emendou um beijo terno depois d'eu ter dito que "artistas são como anjos, Ana: não têm sexo!"
Numa mesinha de bar, ao som de um cantor sem voz tentando ganhar a vida nas noites da cidade, ela me acompanhou solidariamente na água, enquanto todos os outros se deliciavam com seus drinks e coquetéis bem elaborados.
Ana gostava de falar, e como falava! Olhava diretamente nos olhos do seu ouvinte, tentando hipnotizá-lo para não ser refutada. Não sei se também fui hipnotizada, mas até hoje acredito que todas as suas palavras estavam absolutamente certas, embora não tenha podido tomá-las por convicção. Distante duas ou três cadeiras de mim, mesmo que estivesse falando para outra pessoa, era para mim que olhava com atenção. Não sei por que, mas aquele olhar não me causou medo, senão intensa curiosidade.
Nem me assustei quando ela deu um jeito de sentar do meu lado, chamando a atenção dos outros à mesa, ao substituir prontamente o meu vizinho que fora ao banheiro. Lembro que Pierre, o produtor, alertou-me para ter cuidado com ela, fazendo meu rosto enrubescer, e fez chacota sobre eu ser carne fresca. Pouco me importei, talvez tenha até gostado da atenção que tirei ainda mais de Ana depois do comentário. Posso confessar sem medo que tive interesse tanto quanto ou ainda maior.
Achei que a noite passara rápido demais praquela nova experiência pela qual Ana queria me levar/levava. Falamos de música, de teatro, de pintura, de literatura, e para falar a verdade, não concordei com quase-nada, mas aceitei as verdades de Ana com profunda admiração, sem poder refutá-la.
Cada um em direção ao seu carro, a noitada no fim, Ana me segurou um pouco mais, agora disfarçadamente. Queria que meu passo fosse lento o suficiente para me surpreender sem que ninguém percebesse. Talvez se tivesse sido efusiva, ninguém percebesse mesmo, afinal, o nível de álcool no sangue estava muito além do permitido para dirigir.
Mas Ana estava sã, sem nenhum sabor de álcool em seu lábios ou língua. Como sei? Ana me puxou para um vão no estacionamento em que parados juntos estavam nossos carros, e me beijou com fulgor de adolescente apaixonada. Nem sei se retribuí como queria/devia naquele instante, mas consigo lembrar de cada movimento dos nossos rostos e músculos fundidos ali.
Depois ela me disse direta e incisiva que não era lésbica, mas logo emendou um beijo terno depois d'eu ter dito que "artistas são como anjos, Ana: não têm sexo!"
quinta-feira, 9 de abril de 2009
De falhos a belos errantes
[De como belos errantes uma dia foram simplesmente falhos]
O fato de somente os pais estarem legitimados a errar não parece injusto, afinal, trazem consigo a justificativa suprema e inquestionável de estarem sempre em busca do melhor. É ainda mais inquestionável se for possível valorar qualquer sentimento fruto de relação divina, ou se o sacrifício puder ser computado em alguma prestação de contas.
Assim, nada se questiona por ser deveras inquestionável. Ora, mas vá, como erram! São os mais belos errantes pelas causas mais nobres já existentes, ainda que não surtam efeito algum ou signifiquem mesmo nada.
Numa troca clara em que ninguém almeja trocar nada, as coisas se fazem por incondicionalidade, e o sangue, ignorado por ora, é a explicação esdrúxula mais plausível que se pode apreender.
Talvez seja a coisa mais simples da vida, sendo mesmo da natureza, e por assim dizer, imutável. Entretanto há que ser reproduzido em contexto tal um ensinamento aforístico não-relacionado diretamente que se aplica ao caso: "As coisas mais simples são as mais complicadas". Nisto trazido à leitura agora, é que o ensinamento se mostra mais (per)feito.
Quem há de explicar relações fraternas com a propriedade magnânima dos atos já concretos? A nenhuma das partes foi dada a capacidade de sintetizar as teses e antíteses surgidas de maneira complementar.
Das teses dos belos errantes às antíteses dos simplesmente falhos, não postos antagônicamente - posto que isso desconstituiria toda a realidade fática -, o que os cinco sentidos podem perceber está muito aquém do que existe.
Aos falhos nominados filhos, com ânimo de (re)agir tão peculiar, é dado o cargo de aprendiz. Mas aprendiz de belo errante não é coisa fácil de ser. O aprendiz não tem justificativa alguma para proceder como lhe é impelido a fazer, mas felizmente, poucos raros são os que se sabem aprendizes e vivem sob a custódia da culpa de errar injustificadamente.
Injusto é não serem perdoados quando não foram feitos para outra coisa senão errar, sendo, pois, os mais dignos de perdão. Pior, é não poderem em hipótese alguma trocar de lugar com os mestres, mesmo quando já os tenham superados.
A estas criaturas, nunca pobres coitados - pois, como dito antes, não existirá prestação de contas -, resta a possibilidade, sempre recordada, ainda que nem sempre vontade, de terem seus próprios aprendizes, começando tudo outra vez, com a mesma justificativa de sempre.
sexta-feira, 3 de abril de 2009
Traço de amargura (?)
Um telefonema o acorda. Era seu pai lembrando a ele que não deixasse de alimentar o cão, e ele, esquecido, disfarça mentindo que já o fez para logo desligar o telefone, sem sofrer a mínima bronca.
Um barulho vindo de dentro da casa movimenta sua curiosidade e o impulsiona a vestir a bermuda, mas o fato de levantar risonho já indica o conhecimento a respeito da sua companhia.
Procura ansioso, preparando um ataque surpresa, a origem e o causador do barulho, enquanto o cão o persegue faminto e carente. Pela casa toda, a procura é tão vã quanto a vontade de surpreender, e a percepção de estar só é que o assusta.
Certamente, foi o cão que tentou alcançar a bandeija de petiscos quase intocada, ignorada e deixada na cozinha, por ele ter se dirigido ao quarto de olhos entreabertos e revirados, tombando em todos os móveis que foram ora suporte ora obstáculo para o conflito acirrado que acontecera ali há apenas alguns instantes.
Na cozinha, parado, apoiado na pia, alcançou e bebeu o restante de vinho deixado numa das taças. Olhou para o objeto tão frágil, bem definido, comprido e, delicadamente, sentiu o aroma da última gota de vinho, tocando o cristal com os lábios repetidas vezes, até que pudesse engolir. E como se aquela única dose de vinho pudesse surtir gigantesco efeito fisiológico sobre o sistema cardiovascular, sentiu o sangue quente e, de repente, se fez rude, deixando grosseiramente a taça na pia, a tendo feito estalar.
Sufocando a cólera que bebeu daquela taça, deu ração ao cão que lhe tinha pena, mas fazia parecer fome, e tentou arrumar os móveis, objetos e quadros que havia tirado do lugar pouco tempo antes. Queria de uma vez mudar a decoração do seu lar, queria mudar a decoração do seu coração.
Cheio de dúvidas, com o coração numa das mãos, pegou o telefone com a outra. Apertou uma das mãos, imaginando ser a que segurava o telefone, mas sequer percebeu que estava a espremer o próprio coração. Nem mesmo o número conseguiu lembrar. Nem sabia o que queria dizer. Estava mesmo assustado. Lembrou-se da última ligação, tinha sido um pedido para lhe fazerem uma visita. Era o número certo. Discou o atalho. Caiu na caixa postal.
Concluiu a organização da cozinha e da sala, quase sem força, pois era preciso que o ambiente fingisse por ele que nada acontecera. Arrumou a casa nos lugares onde qualquer visita não pudesse apreender o implícito muito além das aparências. Deixou o quarto por último.
No cômodo mais íntimo, não sabia por onde começar, não possuía noção alguma do que seria começo, do que teria sido o começo daquela desordem absurda. Para onde iriam todas aquelas peças de roupa espalhadas? Como ele iria dasamassar os lençóis? Como iria se aquecer naquela noite? Como faria para dormir de novo? Como faria para se sentir melhor depois de ter acordado? Desistiu de pôr ordem no lugar. Era a imagem fiel da sua sensação, não poderia ser mais confusa.
Sentou-se e apoiou a cabeça nas duas mãos. Pensou tanto e só pensou no que pensar. O cão lhe foi solidário, futucando-lhe com o focinho frio. Ele não se sentiu menos só, mas afagou a cabeça do bicho, em agradecimento. Talvez tenha enchido os olhos de água, mas não quis demonstrar nem pra si mesmo. Bobo, ainda tentava fingir o que estava explícito exatamente no além-das-aparências.
Ela havia aceitado o convite para estar com ele aquela noite, com a simplicidade do desejo. Linda, perfumada e provocante, com uma meia calça sexy que só a sua personalidade não tornava vulgar, chegou, mal aceitou o vinho e os pesticos, mal deixou que ele falasse e/ou encenasse tudo que havia planejado, tirando-lhe logo o fôlego, ao tropegarem juntos até o quarto. Explodindo de angústia e pressa, ela impôs que ele se deixasse guiar. O mundo iria acabar dali a pouco.
Tudo acontecido foi tão narrável de ênfase que só para os dois não seria exagero. Ela havia comandado tudo, mesmo sendo ele o mestre dos acontecimentos.
Não tendo planejado nada, ela o esperou dormir. Consertou, então o travesseiro e o beijou com toda a delicadeza que lhe era comum, mas que não houvera se manifestado em momento algum por dar lugar a extrema selvageria.
Olhou tudo em volta, já da porta, muito mais para se assegurar que tudo estava bem do que para gravar em sua mente as imagens que se mostravam ali. Brincou com o cão, trancou a porta por fora e enviou a chave pela fresta. Despediu-se do porteiro, garantindo uma última olhada para a torre de concreto que acabava de sair, sem carregar consigo coisa alguma.
Ele não entendeu a partida, sem sequer um bilhete, depois de dentro dela regozijar o prazer de entender que a possuíra. Porém, só então compreendeu que era ela quem vivia dentro dele; e fora dele, livre e só.
Um barulho vindo de dentro da casa movimenta sua curiosidade e o impulsiona a vestir a bermuda, mas o fato de levantar risonho já indica o conhecimento a respeito da sua companhia.
Procura ansioso, preparando um ataque surpresa, a origem e o causador do barulho, enquanto o cão o persegue faminto e carente. Pela casa toda, a procura é tão vã quanto a vontade de surpreender, e a percepção de estar só é que o assusta.
Certamente, foi o cão que tentou alcançar a bandeija de petiscos quase intocada, ignorada e deixada na cozinha, por ele ter se dirigido ao quarto de olhos entreabertos e revirados, tombando em todos os móveis que foram ora suporte ora obstáculo para o conflito acirrado que acontecera ali há apenas alguns instantes.
Na cozinha, parado, apoiado na pia, alcançou e bebeu o restante de vinho deixado numa das taças. Olhou para o objeto tão frágil, bem definido, comprido e, delicadamente, sentiu o aroma da última gota de vinho, tocando o cristal com os lábios repetidas vezes, até que pudesse engolir. E como se aquela única dose de vinho pudesse surtir gigantesco efeito fisiológico sobre o sistema cardiovascular, sentiu o sangue quente e, de repente, se fez rude, deixando grosseiramente a taça na pia, a tendo feito estalar.
Sufocando a cólera que bebeu daquela taça, deu ração ao cão que lhe tinha pena, mas fazia parecer fome, e tentou arrumar os móveis, objetos e quadros que havia tirado do lugar pouco tempo antes. Queria de uma vez mudar a decoração do seu lar, queria mudar a decoração do seu coração.
Cheio de dúvidas, com o coração numa das mãos, pegou o telefone com a outra. Apertou uma das mãos, imaginando ser a que segurava o telefone, mas sequer percebeu que estava a espremer o próprio coração. Nem mesmo o número conseguiu lembrar. Nem sabia o que queria dizer. Estava mesmo assustado. Lembrou-se da última ligação, tinha sido um pedido para lhe fazerem uma visita. Era o número certo. Discou o atalho. Caiu na caixa postal.
Concluiu a organização da cozinha e da sala, quase sem força, pois era preciso que o ambiente fingisse por ele que nada acontecera. Arrumou a casa nos lugares onde qualquer visita não pudesse apreender o implícito muito além das aparências. Deixou o quarto por último.
No cômodo mais íntimo, não sabia por onde começar, não possuía noção alguma do que seria começo, do que teria sido o começo daquela desordem absurda. Para onde iriam todas aquelas peças de roupa espalhadas? Como ele iria dasamassar os lençóis? Como iria se aquecer naquela noite? Como faria para dormir de novo? Como faria para se sentir melhor depois de ter acordado? Desistiu de pôr ordem no lugar. Era a imagem fiel da sua sensação, não poderia ser mais confusa.
Sentou-se e apoiou a cabeça nas duas mãos. Pensou tanto e só pensou no que pensar. O cão lhe foi solidário, futucando-lhe com o focinho frio. Ele não se sentiu menos só, mas afagou a cabeça do bicho, em agradecimento. Talvez tenha enchido os olhos de água, mas não quis demonstrar nem pra si mesmo. Bobo, ainda tentava fingir o que estava explícito exatamente no além-das-aparências.
Ela havia aceitado o convite para estar com ele aquela noite, com a simplicidade do desejo. Linda, perfumada e provocante, com uma meia calça sexy que só a sua personalidade não tornava vulgar, chegou, mal aceitou o vinho e os pesticos, mal deixou que ele falasse e/ou encenasse tudo que havia planejado, tirando-lhe logo o fôlego, ao tropegarem juntos até o quarto. Explodindo de angústia e pressa, ela impôs que ele se deixasse guiar. O mundo iria acabar dali a pouco.
Tudo acontecido foi tão narrável de ênfase que só para os dois não seria exagero. Ela havia comandado tudo, mesmo sendo ele o mestre dos acontecimentos.
Não tendo planejado nada, ela o esperou dormir. Consertou, então o travesseiro e o beijou com toda a delicadeza que lhe era comum, mas que não houvera se manifestado em momento algum por dar lugar a extrema selvageria.
Olhou tudo em volta, já da porta, muito mais para se assegurar que tudo estava bem do que para gravar em sua mente as imagens que se mostravam ali. Brincou com o cão, trancou a porta por fora e enviou a chave pela fresta. Despediu-se do porteiro, garantindo uma última olhada para a torre de concreto que acabava de sair, sem carregar consigo coisa alguma.
Ele não entendeu a partida, sem sequer um bilhete, depois de dentro dela regozijar o prazer de entender que a possuíra. Porém, só então compreendeu que era ela quem vivia dentro dele; e fora dele, livre e só.
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