Sou eu a maior personagem de todas. Meu nome também começa com "M" e tem toda a especialidade do seu significado. Eu sou a atriz e a espectadora do monólogo que eu mesma fiz.
Tenho técnicas muito eficazes de assumir as personagens que também produzo e dirijo.
Vou ao teatro todos os dias e limpo cada cadeira vazia, vasculho cada canto, enrolo todas as cordas e sacudo todas as cortinas, já que também sou a zeladora do lugar.
Escolho cada figurino com muita atenção, porque todos eles poderão dizer por mim o que meus lábios sequer vão balbuciar.
No camarim, sento-me diante daquele enorme espelho que tem algumas lâmpadas queimadas. Ao meu lado existem flores que eu mesma encomendei do floricultor do outro quarteirão, também um singelo bilhete de admiração. Maquio-me, penteio-me, confiro os detalhes do figurino, emito sons esquisitos para esquentar a voz, dou as mãos ao vento, fecho os olhos e rezo: "...que tudo ocorra bem, que a casa esteja cheia e que eu não erre as falas".
Daí, os passos até o palco são inquietantes. Ainda tenho que abrir as cortinas.
O primeiro pé no palco range a tábua. Assustada, hesito em continuar.
De olhos fechados, tateio com os pés o caminho até o centro. Imagino que ninguém vai perceber minha timidez e meu temor e que farei com que acreditem que tudo aquilo faz parte do espetáculo.
Olho em volta rapidamente para ver se encontro alguém conhecido que me estimule a apresentar com mais intensidade. Infelizmente, a luz a mim direcionada atrapalha minha visão e tudo que eu vejo são vultos. Ignoro a agonia em não poder olhar profundamente nos olhos de alguém.
Um silêncio me invade de tal forma que desconsidero tudo o que já ensaiei. Improviso.
Falo só comigo, ou melhor, falo ali no palco com minha solidão. O momento de criatividade dura. É preciso ser breve antes que seja fastidiosa demais. Deixo de dizer certas coisas. Dou o fim. Apagam-se as luzes e não vejo ninguém.
O teatro está vazio, todo ele está vazio, nem mesmo alguém esperando para pedir informações que nada tem a ver com o espetáculo.
Fecho os olhos outra vez e, assim, dispo-me por completo. A maquiagem borrada deixa à mostra todas as dimensões do meu eu, todas as personagens reveladas.
Ouço palmas; o teatro está vazio; eu estou repleta de tudo.
Tenho técnicas muito eficazes de assumir as personagens que também produzo e dirijo.
Vou ao teatro todos os dias e limpo cada cadeira vazia, vasculho cada canto, enrolo todas as cordas e sacudo todas as cortinas, já que também sou a zeladora do lugar.
Escolho cada figurino com muita atenção, porque todos eles poderão dizer por mim o que meus lábios sequer vão balbuciar.
No camarim, sento-me diante daquele enorme espelho que tem algumas lâmpadas queimadas. Ao meu lado existem flores que eu mesma encomendei do floricultor do outro quarteirão, também um singelo bilhete de admiração. Maquio-me, penteio-me, confiro os detalhes do figurino, emito sons esquisitos para esquentar a voz, dou as mãos ao vento, fecho os olhos e rezo: "...que tudo ocorra bem, que a casa esteja cheia e que eu não erre as falas".
Daí, os passos até o palco são inquietantes. Ainda tenho que abrir as cortinas.
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O primeiro pé no palco range a tábua. Assustada, hesito em continuar.
De olhos fechados, tateio com os pés o caminho até o centro. Imagino que ninguém vai perceber minha timidez e meu temor e que farei com que acreditem que tudo aquilo faz parte do espetáculo.
Olho em volta rapidamente para ver se encontro alguém conhecido que me estimule a apresentar com mais intensidade. Infelizmente, a luz a mim direcionada atrapalha minha visão e tudo que eu vejo são vultos. Ignoro a agonia em não poder olhar profundamente nos olhos de alguém.
Um silêncio me invade de tal forma que desconsidero tudo o que já ensaiei. Improviso.
Falo só comigo, ou melhor, falo ali no palco com minha solidão. O momento de criatividade dura. É preciso ser breve antes que seja fastidiosa demais. Deixo de dizer certas coisas. Dou o fim. Apagam-se as luzes e não vejo ninguém.
O teatro está vazio, todo ele está vazio, nem mesmo alguém esperando para pedir informações que nada tem a ver com o espetáculo.
Fecho os olhos outra vez e, assim, dispo-me por completo. A maquiagem borrada deixa à mostra todas as dimensões do meu eu, todas as personagens reveladas.
Ouço palmas; o teatro está vazio; eu estou repleta de tudo.
Um comentário:
o teatro não está vazio. eu paguei meia pra entra bjs!
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