Um suspiro de morte.
Um crime e aquele corpo foi deixado ali, desnudo.
"Moça não-identificada com aproximadamente 23 anos, morena, magra, estatura mediana é encontrada morta no jardim botânico municipal".
Todos os noticiários informam o crime naquela pacata cidade do interior.
Indigente, ninguém reconhece o cadáver.
Parecia que o corpo fora plantado na cena do crime para que a cidade omissa e retrógrada se manifestasse a respeito de algo. Os meninos fizeram alvoroço assustando as meninas; os homens comentaram sobre o desperdício de tão belo corpo; as mulheres desenvolveram um medo de andar pelas redondezas do jardim botânico; as beatas achavam uma pouca vergonha aquela multidão em volta de um corpo nu.
Os boatos corriam: era uma prostituta, era uma visitante, era a nova professora da escola que chegara antes do esperado, era uma selvagem do bosque. Milhares de teorias foram propostas, nenhuma fazia muito sentido.
Uma senhora de idade, maior conselheira da cidade, diante do corpo, indagada sobre o assunto, apenas cobre a moça nua com seu chale: "Ela sente frio".
As autoridades policiais finalmente retiram o corpo da cena do crime. Não houve muito a ser analisado ali. Não existiam indícios muito concretos que levassem à solução do caso.
As pessoas daquela cidade, apesar de quase nunca vivenciarem situações fora do normal, se esqueceram logo ali da moça nua e retornaram aos seus afazeres.
Restava fazer a autópsia.
Deitada naquela maca gelada, a moça permanece serena, muito embora seja clara uma profunda expressão de tristeza.
Com uma breve olhada, percebem-se cabelos negros e longos, olhos amendoados, boca carnuda, traços finos de alguém que poderia ter conseguido realizar qualquer vontade, pescoço comprido, seios firmes, cintura torneada, pêlos bem cerrados. Bonita!
O médico legista vindo da cidade vizinha distante até se comove diante daquela beldade. Qualquer um se sentiria atraído vendo aquela mulher nua, mas agora era só uma morta.
Fria. Fria. Roxa.
"O que se passou com você, moça? Quem foi capaz de cometer tão terrível crime?", o médico legista disse.
Nenhum sinal de agressão, nem estrangulamento, nem estupro, nem atentado violento. Nada. Os exames toxicológicos não confirmaram a suspeita de envenenamento. Hora de abrir.
Bisturi, afastador de costelas, um belo coração. Mãos cobertas de luvas brancas e limpas, olhos azuis atentos. Atenção, atenção. Um toque, uma pulsação.
Assombração, demônio, zumbi, milagre, emoção.
Ela cora.
Um suspiro da morta.
Um crime e aquele corpo foi deixado ali, desnudo.
"Moça não-identificada com aproximadamente 23 anos, morena, magra, estatura mediana é encontrada morta no jardim botânico municipal".
Todos os noticiários informam o crime naquela pacata cidade do interior.
Indigente, ninguém reconhece o cadáver.
Parecia que o corpo fora plantado na cena do crime para que a cidade omissa e retrógrada se manifestasse a respeito de algo. Os meninos fizeram alvoroço assustando as meninas; os homens comentaram sobre o desperdício de tão belo corpo; as mulheres desenvolveram um medo de andar pelas redondezas do jardim botânico; as beatas achavam uma pouca vergonha aquela multidão em volta de um corpo nu.
Os boatos corriam: era uma prostituta, era uma visitante, era a nova professora da escola que chegara antes do esperado, era uma selvagem do bosque. Milhares de teorias foram propostas, nenhuma fazia muito sentido.
Uma senhora de idade, maior conselheira da cidade, diante do corpo, indagada sobre o assunto, apenas cobre a moça nua com seu chale: "Ela sente frio".
As autoridades policiais finalmente retiram o corpo da cena do crime. Não houve muito a ser analisado ali. Não existiam indícios muito concretos que levassem à solução do caso.
As pessoas daquela cidade, apesar de quase nunca vivenciarem situações fora do normal, se esqueceram logo ali da moça nua e retornaram aos seus afazeres.
Restava fazer a autópsia.
Deitada naquela maca gelada, a moça permanece serena, muito embora seja clara uma profunda expressão de tristeza.
Com uma breve olhada, percebem-se cabelos negros e longos, olhos amendoados, boca carnuda, traços finos de alguém que poderia ter conseguido realizar qualquer vontade, pescoço comprido, seios firmes, cintura torneada, pêlos bem cerrados. Bonita!
O médico legista vindo da cidade vizinha distante até se comove diante daquela beldade. Qualquer um se sentiria atraído vendo aquela mulher nua, mas agora era só uma morta.
Fria. Fria. Roxa.
"O que se passou com você, moça? Quem foi capaz de cometer tão terrível crime?", o médico legista disse.
Nenhum sinal de agressão, nem estrangulamento, nem estupro, nem atentado violento. Nada. Os exames toxicológicos não confirmaram a suspeita de envenenamento. Hora de abrir.
Bisturi, afastador de costelas, um belo coração. Mãos cobertas de luvas brancas e limpas, olhos azuis atentos. Atenção, atenção. Um toque, uma pulsação.
Assombração, demônio, zumbi, milagre, emoção.
Ela cora.
Um suspiro da morta.
Um comentário:
Esse conto me lembra o início de um livro, O Xangô de Baker Street. Eu nunca li o livro todo, mas parece uma cena de assassinato do início do livro. rs.
Estou ansiosa pela próxima atualização.
Amo você.
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