E se ela acorda na madrugada alguma coisa a incomoda muito. Ela finge não saber que seu coração se enche de reflexões e sua mente de sentimentos. Inverte todo o funcionamento do organismo para tornar perceptível um metabolismo assustadoramente alterado. Os pernilongos lhe contam segredos que ela se nega a ouvir, enfiando-se debaixo do cobertor trocado da semana. O cobertor e o travesseiro têm cheiro de alfazema que sua mãe coloca sempre para fazê-la dormir melhor - as vezes acha que fica literalmente bêbada de tanto carinho - "flores no seu travesseiro, minha filha". Faz de conta que sonha acordada ao mensurar os pecados do dia e ao abraçar calientemente o travesseiro. Desiste da companhia das sombras que a luz e as janelas criam para assistir os humores da caixa colorida. Finalmente cochila. Nos primeiros raios de sol, abre os olhos e vê as melhores cores trancafiadas num eletrodoméstico nada útil. Volta a acreditar que também pode ter todas as cores dentro de si.
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