sexta-feira, 5 de setembro de 2008

O filho do estrangeiro velho

A imagem do filho foi ainda mais estimulante.
Já o havia visto quando ele acompanhava a sua mãe numa das visitas referente àquele processo, mas não deixei meus instintos e sentidos perceberam mais que a sua natureza introspectiva. Sentei mesmo ao lado dele e sequer nos olhamos nos olhos, talvez por uma mesma timidez. Só percebi que possuía barba espessa e cabelos bagunçados, assim como o pai, mas ainda cheio de cor negra própria da juventude.
Não utilizei-me dessa imagem na memória até que senti falta da presença doce e tímida quando da minha vez de visitar a mãe dele. Na oportunidade, analisei apenas meu objetivo profissional e o seu pai.
Eis que ontem tive a oportunidade de me apaixonar pelo filho do estrangeiro velho.
Com a minha mesma idade, era menor que eu - não me abati por conta disso -, uma pele branca, tão branquinha que contrastava maravilhosamente com os pêlos negros espalhados pelo corpo, principalmente com as sobrancelhas grossas e com a barba com ar de desleixo, e uns olhos perdidos e certeiros que eu já havia discriminado anteriormente. Foram os olhos que mais me chamaram atenção. Absolutamente bem desenhados e, acima de tudo, muito expressivos. Ele olhava para tudo com graça, do mesmo jeito que eu sinto olhar quando estou encantada e infantil. Olhava com timidez, mas sem desviar. Em todo aquele garoto/homem havia contrastes. Um misto de coragem e fragilidade, medo e certeza, dúvida e determinação.
Tive que me despedir apenas com os olhos, mas, usando óculos, impedi, propositadamente, que ele percebesse toda a minha observação e análise.
Ah, consegui pegar um olhar curioso direcionado a mim, quis saber o que pensava, mas era preciso seguir. Lembrei-me de balançar a cabeça em sinal de cumprimento, o que ele fez do mesmo jeito.

No alto da sala fechada, debatendo os resultados dos procedimentos que tinham sido feitos naquela situação, alguém bateu na porta.
Iluminou o lugar com aquela pele alva e me fez arrepiar com a respiração extremamente ofegante. Imaginei-o depois de atos amorosos que nunca penso, o que me envergonha bastante, não me impedindo, no entanto, de confessar.
Eu ainda nem tinha escutado sua voz, mas tudo aquilo que os sons das palavras do seu pai me causaram foi triplicado simplesmente pelo silêncio dele.
E mais uma vez tive que me despedir. Dessa vez, depois d'eu ter esquecido a minha timidez por um bem maior, qual seja, sua presença de forma mais marcante, cumprimentou-me de forma apropriada, mas ainda desengonçado.
Envergonhou-se por chocar seu rosto abruptamente com o meu, pediu desculpas e o som da sua voz correspondeu na totalidade a toda a expectativa do perfil que eu esbocei. Era grossa e segura, mas doce.







Eu deveria ter pedido o telefone...

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