quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Inflamável

Uma sensação corrosiva rebaixou a alma elevada daquela doce e meiga moça.
Enquanto caminhava, desejava que todos os seres vivos, incluindo os fungos, murchassem e desfalecessem. Trazia consigo um ódio que deixava crescer sem alimentar.
Trancou-se no quarto há algumas semanas tentando se afastar dos transtornos que a habitualidade vinha lhe conferindo. Entretanto, não deixou de exercer suas funções, fazendo tudo da melhor forma, já que agora se manifestava uma organização devido a uma boa utilização do tempo.
Na verdade, a moça se impedia de ter muitos pensamentos a respeito do seu mais novo sentimento. Contudo, não expressando-o, guardava-o inconscientemente para o momento apropriado sem saber exatamente quando seria.
Dominava o tempo isolada lendo os livros separados há algum tempo e ouvindo as músicas daquela velha coleção de CD's.
Estava visivelmente frágil e chorou muitas vezes entre escritos, músicas e leituras. Quando não podia mais consigo mesmo, deitava na cama e felizmente dormia. Resumia sua vida àquele cômodo fazendo as coisas que mais lhe proporcionavam prazer.
Era claro que não queria nada além daquilo. Não queria que seu coração sofresse com os distúrbios que a vida social queria lhe imprimir/imprimia. Mas não era possível ficar ali para sempre e todas as vezes que precisou sair, mais algum acontecimento marcava sua alma de ódio.
A raiva inicial e sutil transformou-se em ódio progressivamente, como pôde definir sozinha. Não sabia se poderia com aquilo por mais tempo, mesmo assim se esforçava em manter a paz consigo e com os que estavam ao seu redor. Fazia questão de advertir aos mais amados da flama escondida que a qualquer instante poderia queimar.
Era bom tomar cuidado, segurando a si mesma, aumentava o potencial explosivo que ativaram dentro dela.

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